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segunda-feira, 24 de maio de 2010

Civilização Zero

As vezes, nas aulas de inglês, alguns alunos dizem que ficam putos quando um gringo pergunta se aqui em São Paulo tem índios, animais ou parte da selva. Pois eu acho que eles deveriam ficar putos em fazer parte desta selva de índios cheio de animais. São Paulo é uma selva de pedra cheia de índios, leia-se pessoas inocentes, ignorantes e de mentalidade simplista, e também de animais, leia-se seres irracionais, que não conseguem ver além do óbvio.
Ao caminhar pela calçada, hoje às 22 horas, vindo do trabalho, quase sou atropelado por um carro que sai a de um hotel na rua Maranhão, Higienópolis. Sim, o motorista, dirigindo a uns 30 kpm, não se deu ao trabalho de parar no portão antes da calçada e tomar a rua. O cara brecou na marra. Me recusei a parar. Preferência minha. O pior foi ouvir um idoso, atrás agradecer por ele ter parado. Quando se chega ao ponto de agradecer um motorista por parar para você passar na calçada, chegamos ao grau máximo de falta de civilidade.
Sim, os gringos têm razão. Vivemos em uma selva de índios e macacos que não sabem votar, não sabem respeitar o vizinho, não sabem viver em sociedade.
Depois disso eu topo com um morador de rua que pede uma moeda e eu sou obrigado a dizer hipocritamente, com aquela cara de que eu lamento profundamente: “Desculpe, eu não tenho moeda hoje!”. Não tenho nem hoje nem nunca. A moeda que eu dou hoje vira o craque de amanhã, e depois esse mesmo cara irá me assaltar para comprar mais craque. Mas tem gente que dá, né! Então, eu é que sou o perverso da história.
Estouraram a cracolândia no centro de São Paulo para ela se multiplicar pelo resto da cidade. Enquanto isso, vamos seguindo, reféns dos mendigos, dos assaltantes, dos motoristas grosseiros. E os pacatos cidadãos continuam achando que os gringos, que com desculpa da palavra, vivem anos luzes ahead of us em termos de civilização, não têm o direito de dizer que vivemos em uma selva cheia de cobras e macacos.