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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A verdade nua e crua


Ontem, depois de correr 5,3 km na maratona Pão de Açucar, voltei pra casa e dormi gostoso. Quando acordei nao sabia se era domingo ainda ou já segunda feira. Uma delicia. Mas era domingo e deu pra pegar um cinema. Assisti 'A Verdade Nua e Crua' (The Ugly Truth). Comédia romantica. Deu pra dar umas boas gargalhadas por contas dos 'puns', joguinho de palavras em ingles, que infelizmente fica dificil traduzir. O pior é que eu soltava umas gargalhadas, junto com um casal de gringos na mesma fileira, e os outros lá... boiando.... achando a gente uns esquisitões. Recomendo para esquecer um pouco da vida, realidade nua e crua, etc. Houve uma cena que marcou. No final do filme há uma competição de balões. A cena é de tirar o fôlego. Ai tem um DR dentro do balão, a camera de tv ligada sem que eles soubessem, coisas de filminho romantico, é só ignorar, e no final eles se beijam.
O ponto é que eu me lembrei de quando eu voei em um balão com alguém por quem estava muito apaixonado na época. Inesquecível. Inesquecível por que nao vou me esquecer da experiencia. Mesmo que eu voe novamente em um balão, aquela foi única, especial, a primeira. Não houve beijo lá encima, e quase nao houve lá embaixo. Tempos depois acabou sem eu saber se a paixão era recíproca. Hoje não importa. O que importa é que foi legal. Lembrei disso no cinema. A gente sonha viver cenas romanticas, elas acontecem na vida real, mas como os filmes, acabam. Mas o importante é lembrar-se delas com aquela saudade saudável. São essas experiências que criam o nosso conhecimento de mundo que nos ajudam a decifrar os textos e discursos que ocorrem em nossa volta no dia à dia. Adorei voar de balão com a pessoa com quem voei. Acabou o namoro, acabou a paixão, acabou o filme, mas ficou a lembraça boa do que passou. E esta é a verdae nua e crua.

domingo, 13 de setembro de 2009

Meu encontro com Isabelle Huppert


Antes de começar a falar sobre meu encontro com ela, deixa eu apresentá-la.

Isabelle Huppert tem 56 anos e é provavelmete, (segundo a revista Época SP 8/2009 p 174) a melhor intérprete francesa de sua geração, duas vezes premiada como melhor atriz no Festival de Cannes (em 1978 e 2001).

Soube de sua existência depois de começar a ler o livro Madame Bovary de Flaubert. O livro é em francês, versão integral oficial, mas meu francês não é lá essas coisas. Resolvi comprar o DVD do filme para me inteirar melhor da história primeiro para depois continuar minha leitura. No filme, Madame Bovary é vivida por Isabelle Huppert. Interpretação impecável. Passado alguns meses, e eu tentando terminar o livro, fiquei sabendo que ela viria a São Paulo lendo uma revista semanal.

Sendo 2009 o ano da França no Brasil, eles, os franceses invadiram a cidade. Que bom né! Nem é preciso ir a Paris pra ouvir frances na rua. O problema é que eles nao tomam banho aqui também e como os trópicos é pura umidade..... bem, isto é outra história! Resolvi que iria vê-la. Separei a carteirinha do Sesc, a carteira profissional para atualizá-la e comprar o ingresso. Previa que seria concorrido comprar os ingressos. Entretanto, tive uma semana corrida, fiquei doente, tentei colocar as coisas em dia e finalmente na Sexta-feira passada fui ao Sesc Consolação. Não foi surpresa quando fiquei sabendo que todos os ingressos estavam esgotados. "Não moço, nao tem pra nenhum dia mesmo, esgotou faz mais de uma semana!" Nem que eu tivesse ido no dia programado teria dado certo. Mas eu iria vê-la. Estava decidido.

Sabado depois de passar o dia na pós, decidi ir até o Sesc Pinheiros e tentar um ingresso de devolução. Antes liguei e a moça, muito simpática e positiva disse: "Não aconselho. Mesmo que haja devolução, tem umas trinta pessoas aqui que estão esperando a mesma coisa!" Desanimei! Acabei ficando em casa e fui dormir mais cedo.

Domingo acordei com a noticia que a dona Carmela tinha morrido. È a sogra da minha irmã. Albanesa, criada na Itália, imigrante no Brasil, iria ser cremada no domingo. "Lamento mana, to com o joelho fud... ferrado. To tentado voltar a minha forma pra correr domingo na Maratona Pão de Açucar e o joelho tá maior que uma bola de futebol!" Um pequeno exagero pra nao ir. O que eu queria mesmo era tentar o tal ingresso.

Fui no Ibirapuera, almocei com o Renato, voltei pra casa e tirei uma soneca com o despertador pronto. Levantei, banho rapido, busão e cheguei lá 17h15. "Oi moça, queria saber se tem devolução!" "Puxa, não tenho não, mas uma mulher acabou de sair daqui tentanto devolver. Ela foi lá na lojinha." (Devolução so até uma hora antes do início). Corri lá na lojinha olhei pra todo mundo e vi uma mulher, toda de preto com um ingresso na mão. "É voce que está tentando vender o ingresso?" "Sou" "Então é meu!" Gente, foi mais fácil do que eu havia pensado. Deu tempo de fazer pipi, tomar cafe e comer bolo de capim santo. Nem sabia que existia, mas lá no Sesc Pinheiros tem, e quando entrei estava lá quase na frente do palco.

Estava ansioso, como ha muito tempo não ficava. To ficando meio indiferente a tudo. Talvez fase, talvez coisa da idade, sei lá. Mas eu tava me sentindo meio criança.

Há! A peça é Quartett, e eu li que foi escrita pelo alemão Heiner Muller (nunca tinha ouvido falar) e que o diretor seria o americano Robert Wilson (nunca tinha ouvido falar) e é livremente inspirada no texto de Ligações Perigosas publicado em 1782, de Choderlos de Laclos. Gosto tanto que comprei o DVD da produção do Stephen Frears com a Glenn Close e o John Malkovich no papel de Merteuil e Valmont. Como revi o filme há menos de um mês, tinha o fio condutor da história em mente..

Ai entrou a Isabelle Huppert. Silencio total. Música de fundo. Luz tênue no palco. Foram entrando os outros atores, inclusive Ariel Garcia Valdés no papel de Valmont. Uma mulher pequena, magra e de aparência fágil, mas quando abriu a boca... reconheci a vós de Ema Bovary. Era ela mesmo escondida naquela maquiagem branca sintética. A mesma expressão contida, quase gélida que marcou muitos de seus papéis. Era ela, era ela, era ela... e eu me contendo pra não dar nenhum fora.

A peça falada em francês com legendas em português. Mas nem precisava ficar lendo a tradução. Eu conhecia a historia, e era bem claro o que estava acontecendo. É claro que um certo conhecimento da lingua ajudou. Ausencia quase completa de cenário, jogo de luz e cores, figurino muito louco, atores com gestual bem marcado, amplificação e distorção de vozes e uma trilha sonora sofisticada (Michael Galasso, autor da trilha de Amor à Flor da Pele, de Wong Kar-Wai). Tudo muito high-tec. Maravilhoso, divino, adorei. Dizer o que. E tudo por R$ 7,50.

Foi assim o meu encontro com a Isabelle Huppert. Eu a vi da minha cadeira, ouvi sua vóz, ela falou comigo. Mas ouve um momento, quando agradeciam que eu tenho certeza que ela olhou pra mim. Eu sorri. Ela não, mas os olhos dela estavam sobre mim.

O espetáculo acabou. Ficou aquela sensação de 'só isso?" deu vontade de perguntar pra alguém uma maneira de conseguir um autógrafo dela em uma foto que veio no progama, mas não, é demais. Peguei o onibus e voltei pra casa.

Mas não faz mal, eu vi a Isabelle Huppert de perto. Eu ouvi sua vóz ao vivo e aplaudi pra ela como nunca antes.