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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O Casarão

Ha muitos anos passou na TV uma novela chamada O Casarão. Alguem se lembra? Eu tinha 14 anos na época.
O Casarão foi uma telenovela brasileira exibida pela Rede Globo em 1976. Foram 161 capítulos e narrava três épocas ao mesmo tempo:1900, de 1926 a 1936 e a atualidade (na época), 1976, com um conteúdo inquietante, ao abordar a decadência das tradicionais oligarquias cafeeiras paulistas, e com isso discutindo temas como feminismo, política, velhice e principalmente a evolução do comportamento. Os atores eram Paulo Gracindo, Yara Cortes, Paulo José, Renata Sorrah, Bete Mendes, Arlete Sales, Gracindo Junior, Sandrda Barsotti, Denis Carvalho, Miriam Pires e tantos outros bons atores e a música que mais marcou foi Fascinação com Elis Regina, o tema de Carolina e João Maciel no terceiro período: 1976.

Bem. O Casarão da foto é um casarão real. Ele foi contruido em 1986 e adquirido pelo coronel Avelino Menk em 1896. Fica na fazenda Serra Velha na cidade de Paranapanema. Durante uma semana eu e o bisneto do coronel, Renato, descançamos sob o teto da construção. A reforma o deixou novinho em folha, como na foto. Uma tarde, eu, Renato e Erika, irmã dele, abrimos um cofre que pertenceu ao coronel e lemos cartas e documentos dele, vimos fotos tiradas ao longo dos anos e pensamos na novela que daria aquele material todo. Foi uma delícia voltar no tempo e reconstruir a história ou as histórias que se passou ali. Juntamos o que ouvimos, as historias dos amantes, das intrigas, das mortes, dos que partiram e dos que vieram, da colonia destruida, a partilha dos bens, a divisão das fazendas e o que sobrou hoje. A novela seria fascinante, muita coisa seria verdade e muita coisa imaginada. O ideal é se o casarão falasse.... se ele fosse o narrador da história. Bem, pensando bem, melhor não, nem tudo o que se passou ali ou ao redor dele poderia ser dito... Acho melhor deixar esta novela pra lá.



Uma semana em silêncio


Dia 23 eu e Renato deixamos o congestionamento da 9 de julho e marginal Pinheiros para trás. Quatro horas depois estavamos na fazenda Serra Velha em Paranapanema. Calor bom! Nós dois a dona Ione e a cachorrinha Menina caminhamos sob eucalíptos, subimos e descemos barrancos, comemos salada da horta, conversamos e rimos muito. Mas houve momentos de silencio. Terminei o livro The Lost Symbol do Dan Brown, dormi a tarde e me sentei nos degraus da porta de entrada do casarão, contruido em 1896 de onde tinha esta vista. Meditei e tomei decisões importantes, principalmente ligado a espiritualidade, acho que influenciado pelo livro que li. Natal em Avaré, ceia e almoço à beira da piscina, voltamos para a fazenda. Mais caminhadas, mais descanços, mais leituras e até fechei uma valeta na estrada carregando carrinhos de areia com a dona Ione. Resultado: Vários calos nas mãos. Domingo à tarde, volta para São Paulo. Balanço da viagem: Revigorado e alguns kilos mais gordo. Hoje viajo para a Europa. Sai da calmaria do Brasil selvagem que habita o imaginário Europeu e vou para a grande civilização européia do imaginário tupiniquim. O resultado só darei na volta.

domingo, 13 de dezembro de 2009

A morte de uma árvore




Ontem dia 12/12/09 às 20 horas, depois de passar o dia fora, ao chegar perto do prédio onde moro na rua Dona Antonia de Queirós, Consolação, fui surpreendido com um caminhão do corpo de bombeiros amputando os galhos de uma das magníficas árvores da rua. Pensei tratar-se de uma poda preventiva antes do verão e os temporais típicos da época, mas me enganei. De dentro do meu apartamento no quinto andar, aos poucos, a vista da copa da árvore foi substituída pela de telhas de amianto cinza de um salão no terreno da Sabesp. Frustrei-me ao lembrar que escolhi o apartamento por causa da vista que tinha de minha sala, as copas das árvores plantadas do outro lado da calçada.
Sai de casa às 23 horas para encontrar amigos e o talhe ainda em progresso. Ao voltar às 2 da manhã vi apenas um toco do que sobrara do tronco.

Acordei hoje, domingo, às 8h30 com a continuação do massacre da serra elétrica. Com a luz do dia, a vista era outra. Descortinou-se o jardim do clube com um belo gramado e flores garbosas, um muro estilo colonial português em volta de um salão e outras árvores antes escondidas atrás da copa da antiga árvore. O telhado cinza ainda estava lá, mas já não incomodava tanto. Pouco antes do meio dia, a caminho do supermercado, parei para conversar com uma moça que supervisionava o grupo de lenhadores. Ela explicou: “Ontem foi a equipe de bombeiros que cortou a árvore que caiu. Veja a raiz!” Era verdade, a raiz levantou parte da calçada. A árvore, condenada, tornou-se um perigo para a população. Continuou: “Hoje, nós da prefeitura viemos remover os restos mortais dela.”
Ela explicou tratar-se de uma Tipuana tipu, nativa da Bolívia e Argentina, seu nome vem do rio boliviano Tipuani, onde vivem no seu vale, uma zona montanhosa e de atividade mineira. Numa pesquisa aprendi que a arvore pode atingir até 20 m de altura. Ela é a árvore mais comum na arborização urbana paulistana e símbolo de alguns bairros da cidade. No começo da primavera surgem pequenas flores amarelo-ouro no topo de seus galhos que ao caírem, cobrem as calçadas e o concreto com um espesso tapete de pétalas. A arvore chega a ser um símbolo de alguns bairros como o Jardins onde formam túneis verdes em algumas ruas. Percebe-se uma densa grama cobrindo o tronco e ramos de tipuanas, trata-se de uma samambaia epífita nativa, a Microgramma vaccinifolia, ou samambaia-grama, que gosta da rugosidade e umidade do tronco da tipuana, além de sua ampla sombra e usa a tipuana apenas como suporte.
As tipuanas de São Paulo estão em sua maioria foram plantadas antes dos anos 1950, principalmente pela Cia. City, que criou os bairros-jardins. O seu plantio hoje não é mais recomendado, devido ao seu grande porte, madeira frágil e susceptível a cupins, sendo substituída gradativamente por espécies nativas pela Prefeitura.

Perguntei se plantariam uma nova árvore no local e ela me garantiu que sim. Disse que provavelmente um muda da mesma espécie, o que duvido. De qualquer forma, não estarei vivo quando esta muda atingir o tamanho e porte que a falecida tinha. Como não estava, eu, vivo quando a anterior foi plantada. O que sei é que hoje tenho uma nova vista de minha janela. À principio não gostei, mas em apenas um dia já senti que logo me acostumo.