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sábado, 28 de fevereiro de 2009

Paraty no Carnaval

Passar o carnaval em Paraty é.....
É estar ao lado do barco que Almir Klink usou para ir ao polo sul. Ver fotos deste barco na internet coberto de geleo e agora vê-lo descansando sob o sol dos trópicos é no minimo emocionante.

É ficar olhando a água e tentar definir a cor. É cair na água e senti-la cálida e não querer sair mais!
É sentir que se esta no Brasil e que este país é maravilhoso!
Pelo menos na questão paisagem!
É ouvir marchinhas antigas de carnaval e ver que as pessoas estão mesmo num clima relax, longe do stress, independente de onde vieram!
É descobrir que mesmo no paraíso há pecado. A praia vermelha ganhou este nome devido a pequena fruta que caia das arvores, misturavam-se a areia e dava sua cor avermelhada. Hoje, mal se ve arvores com este fruto. Eu consegui ver um.
É estar longe do controle do chefe, da cidade, da propaganda, da midia, ... longe de tudo e tão perto de si mesmo!
É ver de perto o carnaval luxo... luxo da criatividade simples do povo local nos bonecos e brincadeiras antigas como espirrar agua nas pessoas ou desfilar todo sujo de lama.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Passageiros Permanentes

(foto tirada em Ushuaia, Argentina em jan 2009 by Luiz Sarti)
Piada infame: Nesta vida nem tudo é passageiro. Uns são cobradores e motoristas. Mentira. Até os motoristas são passageiros. Ontem, no meu trabalho alguém me entregou um caderno de recordação e disse: “É pra você escrever uma mensagem pra Tatty.” A estagiária “Por que? Ela vai embora?” “Ela vai morar nos Estados Unidos.” Deu aquela dorzinha no peito. A Tatty é tão legal! Pronto, acho que isto já define ela. Ai a Mariane, ao meu lado disse: “É difícil se apegar as pessoas aqui em São Paulo! Elas entram e saem de nossa vida assim!” A Mari, é de Curitiba. É jovem, menos de 30 anos, tem olhos enormes verdes, é linda, cool (descolada), inteligente, desistiu de um mestrado pra ir morar em Amsterdã. Professora e escritora. Ela também é legal. Ai eu disse: “Quando morei em Londres, senti muito isso. Eu cheguei lá sozinho, sem conhecer ninguém. Cada dia conhecia alguém diferente. No hostel, na escola, depois meus flatmates, seus amigos que tornaram-se meus amigos. Alguns chegavam, outros iam. Eram pessoas da Rússia, Polônia, Turkia, de outros lugares do Reino Unido. Eles passavam pela minha vida. Procurei criar vínculos com alguns. Difícil, logo iam embora. Todos estavam lá de passagem. No fim de um ano estava mal, queria voltar.” Aqui em São Paulo é o mesmo. Mas é isso aí. Cidade grande é assim. Os olhos grandes de Mariane, não sei explicar como, concordaram e descordaram. É claro que com a experiência de vida dela ela passou pela mesma situação. Continua passando. A Tatty esta indo embora, a Anita para a Austrália e muitas outras pessoas irão. Muitas outras virão também. É assim. Entramos em um trem. Na estação esperamos alguns saírem para podermos entrar. Só esbarramos nelas. Junto conosco entram outros passageiros. Eles ficam ali, ao nosso lado e nem olhamos pra cara deles. Alguns passageiros descem na próxima estação. Entram outros. Por necessidade ou por acaso, às vezes conversamos com alguém. Trocamos olhares. Grandes amizades foram iniciadas numa jornada. Ai chega a hora da gente descer. Alguns passageiros estavam lá antes de entrarmos e continuarão a jornada. Outros entram conosco, e alguns entram depois. Alguns descem antes de entrarmos, outros na estação em que entramos, outros na estação seguinte, estações seguintes, na mesma estação que a gente, depois que descemos. E assim é a vida. Somos todos passageiros. Eu, você, a Anita, a Tatty, a Mariane. E não adianta chorar, é assim que é e é assim que tem de ser. No ritmo frenético atual, com a globalização, cada vez mais pessoas estão indo estudar ou morar em outros lugares. Da pra ir visitá-las, ficou mais barato, dá pra conversar pelo MSN, dá pra telefonar, mandar mensagem no celular. Da também pra esquecê-las e colocar outra ou outras pessoas no lugar delas. É uma escolha. Depende da gente. Sá não dá pra ficar chorando o adeus pra sempre. Algumas pessoas vão embora para sempre. Um dia iremos para sempre. Um dias todos os passageiros irão embora para sempre. Mas o mundo vai estar ai, cheio de trens indo e vindo. E por hora continuamos assim: Passageiros.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A centopéia atravessando a avenida


Estava no ponto de ônibus. Esperava. Avistei, descendo da calçada para o asfalto, uma centopéia. Estava na faixa de pedestres. O farol vermelho. Ela seguia rápido, mas para os padrões humanos, que lerdeza! O farol abriu. Os carros passavam à toda velocidade. Passou carro, passou caminhão, passou ônibus. Eram carros de luxo, populares, pequenos e grandes. Nenhum motorista viu a pobre centopéia atravessando na faixa. Tão pequenina era ela. Insignificante! Eu a seguia com os olhos, torcendo para que terminasse sua travessia. Eram duas faixas deste lado, uma ilha no meio e mais duas faixas do outro lado. A possibilidade de terminar o trajeto em segurança era nil. Pensei em pular na avenida e parar os carros, abanar os braços feito um desvairado. Inviável! Ei, dava pra espera o farol fechar, pegá-la com uma folha de papel e colocá-la de volta ao parque. Agora era torcer pra dar tempo. Os pneus dos carros tiravam fina da pequerrucha. Às vezes ela parava, sentindo a vibração negativa que emanava dos veículos. Passaram vários e ela seguia irredutível. Eram cem pernas numa velocidade incrível. Mas prosseguia indiferente. Uma Ferrari se comparada á uma lesma. Acreditei que seria possível salvá-la. Mas ai surgiu um caminhão. Foi por um triz. As rodas dianteiras quase a pegaram. As rodas traseiras a esmagaram. Como que de propósito, os outros carros vieram atrás terminando o serviço. Ela que escapara de tantos, agora recebia o peso de todos os que seguiram o caminhão. O farol fechou. “Isn’t it ironic? Don’t you think?” – Lembrei da Alanis Morrissette. Agora era tarde. A centopéia era semtopéia, uma mancha úmida no asfalto que em minutos secaria.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

João e Maria


João viu Maria na pista de dança. Que sorriso! Trocaram olhares. Um toque de mão. Um beijo. Muitos beijos. Trocaram telefone. Se encontraram noutro dia. Papo curto mas bom. Algumas ligações durante a semana. Outro encontro no final de semana. Fizeram amor. Cada vez que conversavam aprendiam algo interessante um sobre o outro. “Você é uma caixinha de surpresas!” “Você e seus segredos!” “Eu não tenho segredos! Só não vou dizendo tudo de uma vez!” Era isso. A cada página uma surpresa boa. Inteligência abstrata, alegria, desprendimento, leveza! João, que sempre fora auto-suficiente pensava em Maria todos os dias. Maria, ocupadíssima com a vida, dava pouco retorno. João pensava que ela não tinha o mesmo grau de interesse. De repente ela tinha repentes de romantismo. Um, dois, três, quatro meses. Maria trouxe João para o universo dela. Sua casa, seus amigos. Viajavam, saiam, riam, divertiam-se. Maria nunca chorava. João achava estranho! “Eu não te conheço!” “Eu sou assim!” Duvidas. João pensava que Maria não o amava na mesma intensidade. A bruxa da história era a dúvida e a insegurança. Aquele grandalhão confiante reduziu-se a um grão de feijão. Deram um tempo. Viajaram separados. Voltaram, encontraram-se, conversaram e escreveram FIM no final da página. João ouviu a razão. “Porra! Eu sou um animal racional, mas também emocional!!!” Queria voltar e dizer que fora um engano, “eu não posso viver sem você”. Não deu, não conseguiu.

Um mês. João pensava em Maria todos os dias. Mas seguiu a vida. Conheceu Rosa. Um botão ainda. Sua cor, seu perfume, seu frescor: irresistíveis. Pra que esperar? “Meu apartamento is ok?” Passaram a noite juntos, tomaram café da manhã, assistiram filme no DVD. Em um dia Rosa contou sua vida, riu e chorou, fizeram amor mais de uma vez. Final do dia Rosa foi embora. Embora pra sempre. Viveram tudo em um dia. Não era pra ser um livro, só um artigo pra ser lido e esquecido.

Semana seguinte, Fernanda sorriu para João. “Sou economista. Falo vários idiomas. Morei fora. Moro com meus pais. Procuro um grande amor.” Então ta, né? Beijaram-se. “Tenho que ir embora” “Fica mais um pouco vai?” “Não posso, vim de carona. Me liga amanhã” Fernanda ligou, parecia carente. Ok, café, teatro, pizza com amigos, mas só isso. João relutava. Fernanda, quilos á mais de senso comum e inteligência concreta. Uma semana depois, terceiro encontro. Fizeram amor. Amor? Não, fizeram sexo. João fechou os olhos, pensou em Maria. Fernanda ligava três, quatro, cinco vezes por dia. Se viram novamente. Pouco papo, demonstração de ciúmes, pouco tesão. Insistência. Continuam saindo. Por que? João não sabe. Que livro é este? Daqueles que o leitor sabe que não vai conseguir chegar ao fim.

Um mês depois. João devolve um livro de Maria. Maria liga pra agradecer. Conversa rápida. João ouve sua voz, ouve música. Aquela noite, sonhou com Maria e seu universo. Acorda com Maria em sua cabeça. Ainda tem Maria em seu coração. Rosa? Fernanda? Existem? Existiram? O grandalhão não consegue crescer, não consegue esquecer. Nada brota do grão de feijão, nem uma poesia. João segue a vida. Maria segue a sua. João não sabe o que Maria sente nem pensa. Quando fecha os olhos vê o sorriso de Maria, e acredita que ela sorri para ele, como no primeiro dia em que se viram! Fica a sensação de que o FIM foi escrito antes da hora. Desejo de que este livro tenha continuação. Que a bruxa morra no volume dois e haja volume três, quatro, cinco .....

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Pequena Grandes Mulheres

Comecei minha pós sábado passado na PUC. Logo cedo a atual coordenadora do curso chamou a professora Jeni S. Turazza, antiga coordenadora do curso de pós-graduação de língua portuguesa para dirigir algumas poucas palavras a turma iniciante. Ela nao parecia muito disposta a falar. Uma senhora baixa, talvez 1,50 metros de altura, nao impressionou muito. Após o almoço fomos para a sala de aula e fiquei sabendo que ela seria nossa professora de morfossintaxe. Aquela senhora baixinha, usando óculos, com um cacoete, sim, piscava os dois olhos ao mesmo tempo, começou a falar. Falava com autoridade sobre a fala, linguagem, lingua, palavra, revisão crítica e reflexiva sobre a gramática. A classe parou, num silêncio religioso para ouví-la, ninguém piscava. A mulher foi crescendo, aquela mulher pequena tornou-se um vulcão. Nao, ela nao gritou nem usou de artifícios para chamar nossa atenção, era a sua presença, sua autoridade, seu carisma que fez com que as horas passassem rapidamente. Ao terminar a primeira parte da aula e passar a palavra para o professor Cassiano, nao resisti e comecei a bater palmas, sendo acompanhado por uma boa parte da sala. Ela me fez pensar em outras grandes pequenas mulheres, minha mãe (1,55 mt), Carmem Miranda, Angela Maria (cantora), Edit Piaf. Sim, a professora Jeni é um piaf, um pequeno pardal que canta com a força de um canário e encanta como um rouxinol.