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domingo, 13 de dezembro de 2009

A morte de uma árvore




Ontem dia 12/12/09 às 20 horas, depois de passar o dia fora, ao chegar perto do prédio onde moro na rua Dona Antonia de Queirós, Consolação, fui surpreendido com um caminhão do corpo de bombeiros amputando os galhos de uma das magníficas árvores da rua. Pensei tratar-se de uma poda preventiva antes do verão e os temporais típicos da época, mas me enganei. De dentro do meu apartamento no quinto andar, aos poucos, a vista da copa da árvore foi substituída pela de telhas de amianto cinza de um salão no terreno da Sabesp. Frustrei-me ao lembrar que escolhi o apartamento por causa da vista que tinha de minha sala, as copas das árvores plantadas do outro lado da calçada.
Sai de casa às 23 horas para encontrar amigos e o talhe ainda em progresso. Ao voltar às 2 da manhã vi apenas um toco do que sobrara do tronco.

Acordei hoje, domingo, às 8h30 com a continuação do massacre da serra elétrica. Com a luz do dia, a vista era outra. Descortinou-se o jardim do clube com um belo gramado e flores garbosas, um muro estilo colonial português em volta de um salão e outras árvores antes escondidas atrás da copa da antiga árvore. O telhado cinza ainda estava lá, mas já não incomodava tanto. Pouco antes do meio dia, a caminho do supermercado, parei para conversar com uma moça que supervisionava o grupo de lenhadores. Ela explicou: “Ontem foi a equipe de bombeiros que cortou a árvore que caiu. Veja a raiz!” Era verdade, a raiz levantou parte da calçada. A árvore, condenada, tornou-se um perigo para a população. Continuou: “Hoje, nós da prefeitura viemos remover os restos mortais dela.”
Ela explicou tratar-se de uma Tipuana tipu, nativa da Bolívia e Argentina, seu nome vem do rio boliviano Tipuani, onde vivem no seu vale, uma zona montanhosa e de atividade mineira. Numa pesquisa aprendi que a arvore pode atingir até 20 m de altura. Ela é a árvore mais comum na arborização urbana paulistana e símbolo de alguns bairros da cidade. No começo da primavera surgem pequenas flores amarelo-ouro no topo de seus galhos que ao caírem, cobrem as calçadas e o concreto com um espesso tapete de pétalas. A arvore chega a ser um símbolo de alguns bairros como o Jardins onde formam túneis verdes em algumas ruas. Percebe-se uma densa grama cobrindo o tronco e ramos de tipuanas, trata-se de uma samambaia epífita nativa, a Microgramma vaccinifolia, ou samambaia-grama, que gosta da rugosidade e umidade do tronco da tipuana, além de sua ampla sombra e usa a tipuana apenas como suporte.
As tipuanas de São Paulo estão em sua maioria foram plantadas antes dos anos 1950, principalmente pela Cia. City, que criou os bairros-jardins. O seu plantio hoje não é mais recomendado, devido ao seu grande porte, madeira frágil e susceptível a cupins, sendo substituída gradativamente por espécies nativas pela Prefeitura.

Perguntei se plantariam uma nova árvore no local e ela me garantiu que sim. Disse que provavelmente um muda da mesma espécie, o que duvido. De qualquer forma, não estarei vivo quando esta muda atingir o tamanho e porte que a falecida tinha. Como não estava, eu, vivo quando a anterior foi plantada. O que sei é que hoje tenho uma nova vista de minha janela. À principio não gostei, mas em apenas um dia já senti que logo me acostumo.

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