O filme, dirigido por Benoît Jacquot diretor, Francês 66 anos (Vila Amalia, Tosca) é baseado no livro de Chantal Thomas publicado em agosto de 2002, ganhador do premio Femina. Foi lançado na França em março de 2012 e recebeu o premio Luis-Delluc como melhor filme do ano. A história se passa em Julho de 1789, alvorecer da Revolução Francesa. A vida no Palácio de Versalhes continua descontraída e imprudente. Em Paris, reina o tumulto. A jovem Sidonie Laborde (Léa Seydoux) é empregada como leitora da rainha Maria Antonieta, vivida pela atriz alemã Diane Druger. E é através dos olhos de Sidonie que vemos os acontecimentos que dão inicio a Revolução Francesa.
No palácio os nobres tinham a disposição até 80 tipos diferentes de sobremesa em um único jantar, segundo a fala de um dos personagens, enquanto o povo passava fome nas ruas da cidade. Contrapondo o luxo do palácio, boa parte das cenas se passa nos alojamentos do palácio de Versailles, o que me lembrou da série inglesa Downtown Abbey. Sidonie é alojada junto com os outros domésticos em um anexo ao palácio onde as notícias da queda da Bastilha e dos escândalos amorosos do palácio são partilhados entre os soldados, guardas palacianos, padres e mucamas. Partilham também pão e água como refeição ou as sobras dos banquetes reais. Sidonie sofre com as picadas dos pernilongos e com a vista de ratos mortos na Corte.
Ela crê ingenuamente que poderá se tornar amiga da rainha e talvez até mesmo tirar o lugar da suposta amante dela, Madame de Polignac. É totalmente devotada à Rainha e permanece ao lado dela, mesmo depois que a notícia da tomada da Bastilha chega à Corte e nobres e servos fogem desesperados, abandonando o Rei Luís XVI e Maria Antonieta em Versailles. Não é um filme com efeitos especiais ou uma trilha sonora fantástica e a maior parte das cenas se passa em ambientes internos e o close constante nos personagens cria um incomodo claustrofóbico, mas o belo figurino, ótimas atuações e certa dose de suspense sustenta bem o enredo até o final.
Entretanto minha opinião sobre o filme vai além. Ele me fez pensar nos acontecimentos atuais no Brasil. Numa onda de protestos recente, o povo tomou as ruas e reclamam da corrupção e dos privilégios daqueles em quem votaram, para servir a nação. Animados pelos protestos, alguns manifestantes tentaram invadir o Palácio do Itamaraty em Brasília, palácios de governos, câmeras e prefeituras pelo Brasil afora. As palavras do rei: “O povo não quer pão. Ele quer o poder!” talvez nunca ditas realmente, nunca fez tanto sentido para nós. A diferença é que o povo, teoricamente, já tem este poder, apenas não sabia. Pensei então em alguns paralelos entre a Revolução Francesa e a situação atual no Brasil.
Hoje temos uma situação social onde a situação econômica do brasileiro é melhor do que no passado com uma nova classe média com poder econômico, a maior parte da população vive nas cidades sem saneamento básico, e reclamam da saúde e da questão da mobilidade e da segurança. Na economia temos problemas estruturais com riqueza mal distribuída, inflação e dólar alto, e crescimento mínimo. Todos querem uma reforma política, mas não tem coragem de fazê-la. Cada vez mais os políticos têm mais mordomias, como na corte francesa, estouram casos de corrupção e impunidade e os impostos altos sobrecarregam a massa de trabalhadores que se sentem prejudicados com a aprovação das leis. Concluindo, colocado de forma simples, há sim fatores muito parecidos entre o que ocorreu na Revolução Francesa, conforme me fez lembrar o filme e os acontecimentos atuais no Brasil. A diferença é que Sodonie foi fiel à rainha até o final, e só disse adeus a sua rainha porque foi obrigada. No Brasil de hoje, não sabemos quantos serão fiéis a nossa ´presidenta´ dando o apoio que ela precisa e espera. Para a França, após a Revolução, abriu-se um o longo período de convulsões políticas do século XIX, fazendo-a passar por várias repúblicas, uma ditadura, uma monarquia constitucional e dois impérios. Resta para nós saber o que acontecerá com o Brasil depois que dissermos Adeus a nossa rainha.
Um comentário:
Hoje, infelizmente já sabemos a resposta.
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