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quarta-feira, 26 de junho de 2013

Adeus Minha Rainha

 “O povo não quer pão. Ele quer o poder!” É uma fala do rei Luiz XVI, vivido pelo ator francês Xavier Beauvois, no filme Adeus Minha Rainha (Les Adieux à la reine). 

O filme, dirigido por Benoît Jacquot diretor, Francês 66 anos (Vila Amalia, Tosca) é baseado no livro de Chantal Thomas publicado em agosto de 2002, ganhador do premio Femina. Foi lançado na França em março de 2012 e recebeu o premio Luis-Delluc como melhor filme do ano. A história se passa em Julho de 1789, alvorecer da Revolução Francesa. A vida no Palácio de Versalhes continua descontraída e imprudente. Em Paris, reina o tumulto. A jovem Sidonie Laborde (Léa Seydoux) é empregada como leitora da rainha Maria Antonieta, vivida pela atriz alemã Diane Druger. E é através dos olhos de Sidonie que vemos os acontecimentos que dão inicio a Revolução Francesa. 

 No palácio os nobres tinham a disposição até 80 tipos diferentes de sobremesa em um único jantar, segundo a fala de um dos personagens, enquanto o povo passava fome nas ruas da cidade. Contrapondo o luxo do palácio, boa parte das cenas se passa nos alojamentos do palácio de Versailles, o que me lembrou da série inglesa Downtown Abbey. Sidonie é alojada junto com os outros domésticos em um anexo ao palácio onde as notícias da queda da Bastilha e dos escândalos amorosos do palácio são partilhados entre os soldados, guardas palacianos, padres e mucamas. Partilham também pão e água como refeição ou as sobras dos banquetes reais. Sidonie sofre com as picadas dos pernilongos e com a vista de ratos mortos na Corte. 

Ela crê ingenuamente que poderá se tornar amiga da rainha e talvez até mesmo tirar o lugar da suposta amante dela, Madame de Polignac. É totalmente devotada à Rainha e permanece ao lado dela, mesmo depois que a notícia da tomada da Bastilha chega à Corte e nobres e servos fogem desesperados, abandonando o Rei Luís XVI e Maria Antonieta em Versailles. Não é um filme com efeitos especiais ou uma trilha sonora fantástica e a maior parte das cenas se passa em ambientes internos e o close constante nos personagens cria um incomodo claustrofóbico, mas o belo figurino, ótimas atuações e certa dose de suspense sustenta bem o enredo até o final. 

Entretanto minha opinião sobre o filme vai além. Ele me fez pensar nos acontecimentos atuais no Brasil. Numa onda de protestos recente, o povo tomou as ruas e reclamam da corrupção e dos privilégios daqueles em quem votaram, para servir a nação. Animados pelos protestos, alguns manifestantes tentaram invadir o Palácio do Itamaraty em Brasília, palácios de governos, câmeras e prefeituras pelo Brasil afora. As palavras do rei: “O povo não quer pão. Ele quer o poder!” talvez nunca ditas realmente, nunca fez tanto sentido para nós. A diferença é que o povo, teoricamente, já tem este poder, apenas não sabia. Pensei então em alguns paralelos entre a Revolução Francesa e a situação atual no Brasil. 

A Revolução Francesa iniciada em 1789, com a queda da Bastilha, alterou o quadro político e social da França. A situação da França, antes da Revolução, era a de um Estado pobre num país rico. Com a exceção da nobreza rural, a riqueza das restantes classes sociais na França tinha crescido imensamente nas últimas décadas e o crescimento da indústria era notável. Antes da Revolução, o maior problema da indústria francesa era a falta de mão de obra. O país, apesar de industrializado, tinha características feudais com 80% da economia agrícola. Após uma grande escassez de alimentos devido a uma onda de frio, a população mudou-se para as cidades. Nas fábricas, eram explorados e a cada ano ficavam mais miseráveis enquanto a burguesia enriquecia. O povo, o terceiro estado, vivia à base de pão e em péssimas condições nas cidades onde não havia saneamento básico e estavam vulneráveis a doenças. Ao longo da História, a miséria tem provocado muitos motins, mas em regra não provoca revoluções. Além das causas sociais, a Revolução teve também como causa, fatores econômicos e políticos. A França passava por um período de crise financeira devido a participação na Guerra da Independência dos EUA e a Guerra dos Sete Anos, além do elevado custo da Corte de Luís XVI. O Rei, em meio ao caos e descontentamento geral, não conseguiu promover reformas tributárias, impedido pelo clero (primeiro estado) e pela nobreza (segundo estado). As causas econômicas também eram estruturais, as riquezas eram mal distribuídas; a crise produtiva manufatureira estava ligada ao sistema corporativo, que fixava quantidade e condições de produtividade o que descontentou a burguesia. Entre a causa política temos o seguinte, quando em fevereiro de 1787, Loménie de Brienne, ministro das finanças, submeteu a uma Assembléia de Notáveis, um projeto que incluía o lançamento de um novo imposto sobre a propriedade da nobreza e do clero, esta não foi aprovada. Havia grandes injustiças entre as antigas ordens e ficava sempre o Terceiro Estado prejudicado com a aprovação das leis. Segue-se então a Revolução em 1789. 

 Hoje temos uma situação social onde a situação econômica do brasileiro é melhor do que no passado com uma nova classe média com poder econômico, a maior parte da população vive nas cidades sem saneamento básico, e reclamam da saúde e da questão da mobilidade e da segurança. Na economia temos problemas estruturais com riqueza mal distribuída, inflação e dólar alto, e crescimento mínimo. Todos querem uma reforma política, mas não tem coragem de fazê-la. Cada vez mais os políticos têm mais mordomias, como na corte francesa, estouram casos de corrupção e impunidade e os impostos altos sobrecarregam a massa de trabalhadores que se sentem prejudicados com a aprovação das leis. Concluindo, colocado de forma simples, há sim fatores muito parecidos entre o que ocorreu na Revolução Francesa, conforme me fez lembrar o filme e os acontecimentos atuais no Brasil. A diferença é que Sodonie foi fiel à rainha até o final, e só disse adeus a sua rainha porque foi obrigada. No Brasil de hoje, não sabemos quantos serão fiéis a nossa ´presidenta´ dando o apoio que ela precisa e espera. Para a França, após a Revolução, abriu-se um o longo período de convulsões políticas do século XIX, fazendo-a passar por várias repúblicas, uma ditadura, uma monarquia constitucional e dois impérios. Resta para nós saber o que acontecerá com o Brasil depois que dissermos Adeus a nossa rainha.

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