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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Passageiros Permanentes

(foto tirada em Ushuaia, Argentina em jan 2009 by Luiz Sarti)
Piada infame: Nesta vida nem tudo é passageiro. Uns são cobradores e motoristas. Mentira. Até os motoristas são passageiros. Ontem, no meu trabalho alguém me entregou um caderno de recordação e disse: “É pra você escrever uma mensagem pra Tatty.” A estagiária “Por que? Ela vai embora?” “Ela vai morar nos Estados Unidos.” Deu aquela dorzinha no peito. A Tatty é tão legal! Pronto, acho que isto já define ela. Ai a Mariane, ao meu lado disse: “É difícil se apegar as pessoas aqui em São Paulo! Elas entram e saem de nossa vida assim!” A Mari, é de Curitiba. É jovem, menos de 30 anos, tem olhos enormes verdes, é linda, cool (descolada), inteligente, desistiu de um mestrado pra ir morar em Amsterdã. Professora e escritora. Ela também é legal. Ai eu disse: “Quando morei em Londres, senti muito isso. Eu cheguei lá sozinho, sem conhecer ninguém. Cada dia conhecia alguém diferente. No hostel, na escola, depois meus flatmates, seus amigos que tornaram-se meus amigos. Alguns chegavam, outros iam. Eram pessoas da Rússia, Polônia, Turkia, de outros lugares do Reino Unido. Eles passavam pela minha vida. Procurei criar vínculos com alguns. Difícil, logo iam embora. Todos estavam lá de passagem. No fim de um ano estava mal, queria voltar.” Aqui em São Paulo é o mesmo. Mas é isso aí. Cidade grande é assim. Os olhos grandes de Mariane, não sei explicar como, concordaram e descordaram. É claro que com a experiência de vida dela ela passou pela mesma situação. Continua passando. A Tatty esta indo embora, a Anita para a Austrália e muitas outras pessoas irão. Muitas outras virão também. É assim. Entramos em um trem. Na estação esperamos alguns saírem para podermos entrar. Só esbarramos nelas. Junto conosco entram outros passageiros. Eles ficam ali, ao nosso lado e nem olhamos pra cara deles. Alguns passageiros descem na próxima estação. Entram outros. Por necessidade ou por acaso, às vezes conversamos com alguém. Trocamos olhares. Grandes amizades foram iniciadas numa jornada. Ai chega a hora da gente descer. Alguns passageiros estavam lá antes de entrarmos e continuarão a jornada. Outros entram conosco, e alguns entram depois. Alguns descem antes de entrarmos, outros na estação em que entramos, outros na estação seguinte, estações seguintes, na mesma estação que a gente, depois que descemos. E assim é a vida. Somos todos passageiros. Eu, você, a Anita, a Tatty, a Mariane. E não adianta chorar, é assim que é e é assim que tem de ser. No ritmo frenético atual, com a globalização, cada vez mais pessoas estão indo estudar ou morar em outros lugares. Da pra ir visitá-las, ficou mais barato, dá pra conversar pelo MSN, dá pra telefonar, mandar mensagem no celular. Da também pra esquecê-las e colocar outra ou outras pessoas no lugar delas. É uma escolha. Depende da gente. Sá não dá pra ficar chorando o adeus pra sempre. Algumas pessoas vão embora para sempre. Um dia iremos para sempre. Um dias todos os passageiros irão embora para sempre. Mas o mundo vai estar ai, cheio de trens indo e vindo. E por hora continuamos assim: Passageiros.

Um comentário:

Anônimo disse...

Texto perfeito para ser lido com a musica da Maria Rita "Encontros e Despedidas" tocando como musica de fundo.
Beautiful!
http://www.youtube.com/watch?v=cmz6FO0hQFY

Waldinei