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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A centopéia atravessando a avenida


Estava no ponto de ônibus. Esperava. Avistei, descendo da calçada para o asfalto, uma centopéia. Estava na faixa de pedestres. O farol vermelho. Ela seguia rápido, mas para os padrões humanos, que lerdeza! O farol abriu. Os carros passavam à toda velocidade. Passou carro, passou caminhão, passou ônibus. Eram carros de luxo, populares, pequenos e grandes. Nenhum motorista viu a pobre centopéia atravessando na faixa. Tão pequenina era ela. Insignificante! Eu a seguia com os olhos, torcendo para que terminasse sua travessia. Eram duas faixas deste lado, uma ilha no meio e mais duas faixas do outro lado. A possibilidade de terminar o trajeto em segurança era nil. Pensei em pular na avenida e parar os carros, abanar os braços feito um desvairado. Inviável! Ei, dava pra espera o farol fechar, pegá-la com uma folha de papel e colocá-la de volta ao parque. Agora era torcer pra dar tempo. Os pneus dos carros tiravam fina da pequerrucha. Às vezes ela parava, sentindo a vibração negativa que emanava dos veículos. Passaram vários e ela seguia irredutível. Eram cem pernas numa velocidade incrível. Mas prosseguia indiferente. Uma Ferrari se comparada á uma lesma. Acreditei que seria possível salvá-la. Mas ai surgiu um caminhão. Foi por um triz. As rodas dianteiras quase a pegaram. As rodas traseiras a esmagaram. Como que de propósito, os outros carros vieram atrás terminando o serviço. Ela que escapara de tantos, agora recebia o peso de todos os que seguiram o caminhão. O farol fechou. “Isn’t it ironic? Don’t you think?” – Lembrei da Alanis Morrissette. Agora era tarde. A centopéia era semtopéia, uma mancha úmida no asfalto que em minutos secaria.

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