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sábado, 29 de agosto de 2009

Vanda - Minha professora não é uma sereia

Ontem li no blog do Caco (Catando os Cacos) a descrição de sua professora no curso de Comércio Exterior. Mulherzinha chata com problemas psicológicos pesados, vomitando o CV dela, se distanciando dos mortais, etc, etc. Fiz uma imagem mental da mulher e fui para minha primeira aula de Leitura e Escrita Narrativa na PUC. Seria minha primeira aula com a professora Vanda. Ela é tao diferente da profa mencionada pelo Caco que resolvi escrever sobre ela. Como foi uma aula sobre narrativa, começo praticando. Uma mulher branca de cabelos castanhos, curtos e ondulados, estatura média, esguia, usava um conjunto de calças pretas, blusa cinza e casaquinho cinza com motivos pretos, tudo combinando, mas com simplicidade e elegancia discreta. Discreta foi o modo como chegou... ou foi chegando. Pediu para fazermos um grande circulo e falarmos sobre nós.

Queria conhecer-nos. Sugeri... sim, eu sugeri algo, porque eu não consigo ficar com minha grande boca calada, por mais que eu tente, é mais forte do que eu..... enfim, sugeri que ela escolhesse alguém, e que depois desta pessoa falar, ela escolheria uma outra pessoa para falar sobre ela. Adivinha quem ela escolheu pra começar???? EU!!! Tá bem, não sabia direito como começar nem o que dizer... ai falei o que eu estudei, onde estudei, o que eu fiz, o que eu faço agora, porque fazia portugues e não inglês, bla bla bla e passei a bola pra frente.

Foi torturoso ouvir cada um falando um pouquinho sobre si. Alguns com uma biografia de dar dó, tipo 'Fiz facu na Unialgumacoisa, sou casada, tenho filhos, dou aula no fundamental 1 e 2, tenho uma vidinha mediocre, nunca fiz nada de interessante na vida, etc e tal, ponto." Mas outros interessantes: "Fiz jornalismo, trabalhei na Folha, no Estadão, na Abril, no diabo a quatro, viajei pelo mundo, fiz letras, comecei mestrado, parei, fiz filosofia, adoro literatura, quero escrever um livro, estou no grupo de estudo do doutor tal fazendo uma pesquisa sobre não sei o que direito..." e tem os que adoram falar sobre si....

O relato que farei agora é verdade mesmo, não inventei nadinha, juro.... A tal aluna é branca e tem um cabelo preto igual da Morticia Adams, sabem quem é? Ela deve ter uns 40 anos de idade, é separada, tem vários problemas para serem resolvidos com o analista dela... mas ai ela começou um discurso interminável: "A senhora nao vai achar o meu nome na lista, porque eu não gosto do meu primeiro nome. Eu me auto denomino Fulana (ela falou o nome dela). Sou cantora profissional. Já fiz fonologia na PUC, teatro, gastronomia. Agora sou secretária e vendo trufas nas horas vagas. Sábado vou trazer algumas, 2,50 cada, se alguém quizer pode encomendar. Sou formada em português. Eu faço português desde antes de todos vocês terem nascido. Acho que só a Vanda tinha nascido!" Vanda, nossa professora sentadinha quietinha no canto dela. Comoção total: "OOOOHHHHH!" .... oh não, Uó! que mulher uó. Re, super gay gritou: "Voce foi extremamente mal educada!" E a Vanda lá, olhando para todos, sem entender nada. Ela não é uma simpatia??????

Hora de voltar a falar da profa. Uma hora e meia depois desse vomito todo, ela conseguia lembrar o nome de cada um de nós e alguns detalhes sobre o que haviamos falado. Discretamente falou sobre si: "Mestrado em estilística da língua portuguesa, com foco na linguagem de internet – Doutorado em Escrita textual. Dirijo um grupo de pesquisa: Ensino de língua portuguesa para fins específicos. Pesquisa do hiper-texto. Fiz e continuei meus estudos porque além de uma satisfação pessoal o mercado e a vida moderna exige que continuemos a agregar conhecimentos. Fiz uma Pós-Doc na Unicamp com a professora tal (aquela famosa que todo mundo sabe quem é, menos eu) e dai surgiram os livros tal e tal. Alguém grita emocionado: "Este livro está na bibliografia do concurso público estadual" E a profa com a maior cara de surpresa pergunta: "Mesmo, tão falando sério? Eu não sabia!" E ela estava sendo sincera!!!!

Falou de si com a mesma dignidade e elegancia discretas que apresentava em suas roupas. Começou a aula sem que percebessemos e manteve todos atentos a ela que falava com segurança, emoção e paixão. Quase bati palmas pra ela. Me segurei novamente, porque minha espontaneidade sempre me mete em furadas e eu acabo pagando altos micos. De forma natural ela saia com palavras que eu nunca tinha ouvido ou se tinha não sabia o que era. Ela disse: "recompensação" e eu abri meu Houaiss eletronico na hora, e a palavra estava lá: recompensa. Mostrei pro Re que ficou atento e dizia a cada nova palavra: "olha ai, ela disse burilamento" "Quer dizer tornar apurado, aprimorar." "Ela disse profícuo, o que é profícuo?" "proveitoso, rendoso". "Outros Campi. Outros campi? Ela errou feio agora, olha ai!" "Não precisa olhar, campi é o plural de campus!" "Ah!!!!"

Fizemos uma avaliação, já ganhei um pontinho. Falamos sobre teoria, ela já deu os livros pra gente ler (não tem nenhum dela, mas eu quero comprar) e nos dispensou me deixando com vontade de assistir a proxima aula. Serão mais quatro encontros e com certeza vai pintar coisas interessantes para escrever aqui.

A propósito, a tal colega que chamou ela de 'velha' na cara dura, depois cantou uma musica pra nós, nos agraciando com uma palhinha.... não foi de tudo ruim!!!

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