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quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Prisões


Eu estava preso em uma sala de exames, não como aluno, mas como professor. Era um exame de inglês da universidade de Cambridge. Rigidez e regras inglesas. Cinco minutos após entregar os papeis (é assim que se diz em inglês) e os alunos começarem, acabou a energia elétrica e o gerador do prédio não funcionou. O supervisor avisou que deveríamos recolher os exames, e como os alunos já haviam visto o conteúdo, não poderiam deixar a sala e nem comunicar-se entre eles. Estávamos presos ali. Meia hora depois a luz voltou. Começam o exame novamente. Silencio total. Ouvi um garoto gritar lá fora, num prédio vizinho: Eu quero sair, eu quero ir pra rua. Apenas uma aluna esboçou reação. Olhou rapidamente para a janela, levantou as sobrancelhas, desceu os cantos da boca e voltou-se para o exame. Presos e concentrados ao extremo no que faziam, os outros nove ignoraram. Dei um sorriso ao lembrar-me do dia em que eu fiquei preso na sacada do meu apartamento. Havia trocado plantas de vaso e precisei lavá-la. Ao jogar água no piso da sacada, ela quase entrou na sala. Apavorado, puxei a porta de correr com força. Ouvi um clique. A porta estava trancada. Não acredito. Pensei. Esperançoso, tentei a outra porta. Trancada. Sozinho no apartamento, não tinha a quem pedir para abrir a porta pra mim. Trancado do lado de fora, no sexto andar do prédio. Houve um principio de pânico. Olhei em volta procurando algo para quebrar o vidro. Não havia nada. Respirei fundo. Calma! Calma! Deve haver outra maneira. Pensei nas possibilidades. Tentei forçar a porta. Nada aconteceu. Peguei um arco de aproximadamente um metro, feito por índios, que havia comprado em Cuiabá. Decoração pendurado na parede. Coloquei na parte de baixo da porta, fui forçando e subindo, com a esperança de que a tranca soltasse. O arco quebrou. Olhei para a rua, vi as pessoas passando, alheias a tudo e a todos. Pensei em gritar por socorro, que chamassem o porteiro. Mas o que ele iria fazer? Olhei pelo vidro da porta as chaves do apartamento pendurada na fechadura da porta da frente, do lado de dentro. Ele iria arrombar a porta? Então seria melhor eu quebrar o vidro!!! O pânico quase voltou. A sensação de estar preso é desesperadora. Tinha de haver uma saída! Lembrei-me que a porta às vezes teimava em trancar, assim, pensei em forçar novamente a fechadura. Concentrei-me, reuni todas as minhas forçar físicas e mentais e puxei a porta de correr. Outro clique. Ela abriu. Surpreso, aliviado, entrei na sala e me sentei no sofá. Fiquei ali, sozinho, sentado, recupando-me. Pensei no que faria se a porta não tivesse aberto. Chamado os bombeiros? Imaginei eu descendo por uma escada magirus, depois, indo atrás de um chaveiro pra abrir a porta, perdendo o dia de trabalho. Mas enfim tudo acabou bem. Voltei meu pensamento para a sala de aula onde eu era ‘invigilator’. Estava preso, sem poder sair mal ouvindo a respiração dos alunos. Eles também, presos naquele papel, presos a seus objetivos, presos na sala, alheios aos meus pensamentos e ao que um dia aconteceu comigo.

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