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terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Voar Voar


O desejo de voar é nato ao ser humano. Ícaro e as asas de cera, as pipas chinesas, os planos e desenhos feitos por Da Vinci na Renascença, as tentativas frustrantes e catastróficas ao longo da história mostra a força deste desejo. Lembrei-me de músicas falando em voar. Biafra em sonho de Ícaro: “Voar voar, subir subir, ir por onde for, descer até o céu cair ou mudar de cor. Anjos de gás, asas de ilusão e um sonho audaz feito um balão, no ar, no ar eu sou assim...” Ai veio o Santos Dumont e os irmãos Wilbur e Orville Wright, (polêmica encerrada nos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e França á favor dos brothers, mas ainda viva aqui no Brasil.) e surgiu o mais pesado que o ar. Aperfeiçoados chegamos ao Concorde que veio e se foi. Eu voei pela primeira vez em setembro de 1987 (21 anos atrás) de São Paulo para Assunción Del Paraguay, pela LAP, Líneas Aéreas Paraguayas. Ao meu lado Sônia, uma amiga de trabalho, me faz passar a maior vergonha, em vez de pegar a mão do marido que estava ao seu lado esquerdo, pega a minha e a segura forte enquanto o avião decola. Surge a voz de Belchior cantando: “Foi por medo de avião, que eu segurei pela primeira vez a tua mão, agora ficou fácil todo mundo compreende, aquele toque Beatle I wanna hold your hand” O pamonha do marido, nem ligou. Muitas viagens depois ainda me lembro da imagem vista pela janela do avião, num voo entre Paris e Nova York, o solo branco de gelo da Islandia. Mas o domingo, 8 de dezembro de 2008, será um outro dia importante na minha biografia de homem voador. Voei de balão. Ao lado de cinco amigos divertidíssimos, inteligentes e descolados, subi trezentos metros do chão. O dia estava perfeito. Ao chegarmos no campo o sol surgiu atrás do balão semi inflado. Logo entramos no cesto, 16 pessoas ao todo, e o balão foi subindo. A media que deixamos o chão, veio o medo, aquele medinho, medo do desconhecido. O que é que eu estou fazendo aqui? Ouvi dizer que os balões sobem entre 500 e 1000 metros. Quase paniquei, mas segurei a onda. O balão subia e afastava-se levado pela corrente de ar, uma brisa leve e fria. O chão se afastava e a vista vai ficando impressionante. O sol subindo e refletindo nas águas do rio Piracicaba. Embaixo os tetos das casas, me lembro da canção do Roxette: “I wish I could fly, out of the blue, over this town, following you, I’d fly over the rooftops, the great boulevards, to try to find out who you really are....” A diferença é que eu estava fazendo isso, sem seguir alguém, mas com esse alguém. Alguém chama minha atenção: Você está ouvindo os cães latindo? Sim, eram muitos cães. Como o som é claro lá encima, até a voz humana!. Talvez daí a crença de que Deus ouça orações!!!! A medida que o piloto mostra sua habilidade e controle, o medo se dissipa totalmente e curto a viagem, leve, tranquilo. O balão vai numa única direção, mas o piloto o faz girar, subir e descer, quebrando qualquer monotonia. A geografia muda. Kaco lembra de um quadro de Van Gogh. Eu de Di Cavalcanti. São prédios, casas, plantações, arvores, lagos, o rio fazendo curvas, a sombra do balão no chão. Uma mesma câmera fotográfica passa por mãos diferentes, captando olhares e víeis diferentes. O balão desce, com precisão cirúrgica, o piloto toca as águas do rio e sobe novamente, a 300 metros de altura. Uma hora e 15 minutos depois estávamos descendo. O balão tocou o chão, 30 quilometro do local de partida em um pasto gramado com casas de cupim. Sobe rapidamente e desce encima de um reboque preso a uma caminhonete. Terminamos com um “breakfast” trazido pela equipe do balão e com um brinde de champagne. Voltamos para a cidade na van, olhando as mais de 500 fotos tiradas. Extasiados, felizes, sem palavras. Falávamos de planos ambiciosos, pular de para-quedas, voar de asa delta ou paraglide (paragliding). Mais tarde ouvimos Elton John “Turn me loose from your hands, Let me fly to distant lands, Over green fields, trees and mountains, Flowers and forest fountains (…), For just a Skyline Pigeon, Dreaming of the open, Waiting for the day, He can spread his wings, And fly away again, Fly away skyline pigeon fly, Towards the dreams, You've left so very far behind, Fly away skyline pigeon fly, Towards the dreams, You've left so very far behind …” Voltei com a certeza de que o homem não tem asas como os pássaros, mas além de dar asas a sua imaginação, ele foi feito pra voar, sim.


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