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quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Nuvem Negra - Comentário


Nuvem Negra - Comentários
(Foto: g8.no/images/20060513011158_4697_g.jpg)

Escrevi este poema sem pretensão alguma. Após um anúncio de um concurso de poesia no colégio, resolvi entrar. Não tinha nada pra fazer além de ir à escola, me achava artista, sensível, diferente. Pensava que só eu sentia aquelas coisas. Coisas que outras pessoas não sentiam. Eu era um ‘freak’. Achava que era. Murilo era um amigo, artista de verdade que pintava quadros estranhos, nada bonitinho tipo casa na colina, flores cor-de-rosa, que a maioria das mulheres desocupadas pinta em cursos em lojas tipo ‘Pinta e Borda” e depois tentam vender pras amigas. Nada contra, tudo é válido! O Murilo pintava, e também escrevia. Li um poema dele e pensei comigo: “Eu posso fazer isso!” Eu me lembro de ter escrito Nuvem Negra e alguns outros, que postarei mais tarde, e ao mostrar-lhe, ele disse que estava bom. Me ajudou a escolher um pro concurso. Não acreditei quando deram o resultado. “Segundo lugar vai para Nuvem Negra de Macunaíma!” Macunaíma era meu pseudônimo. Ai eu passei a achar que seria o próximo Fernando Pessoa, quem sabe um Carlos Drummont de Andrade. Na pior das hipóteses, um Chico Buarque. Mas aí acabei o colégio, comecei a trabalhar num banco, passava muito tempo lendo a Bíblia, indo na igreja, me afastei do Murilo. As pessoas achavam ele esquisito. Eu estava rodeado de pessoas cujo principal alvo na vida era casar, ter filhos, fazer uma casa no fundo da casa dos pais e viver felizes para sempre. Esperavam o fim do mundo e viviam para o futuro. Que conflito! Queria ser descolado mas era um deslocado. Quase enlouqueci! Talvez o poema reflita um pouco do que sentia na época. Tristeza, solidão, ingenuidade, romantismo, uma visão sombria da vida, falta de perspectiva e o medo de que passaria a vida num espaço pequeno demais para meus sonhos, desejos e anseios. Estava preso a valores que não eram meus. Mas, por fim, antes tarde do que muito tarde, criei coragem, sai pro mundo, do meu jeito, mas saí daquele mundo e fugi da sombra da nuvem negra, sempre buscando a luz. Mas foi preciso quase trinta anos para eu tirar os poemas amarelados duma caixa, voltar a lê-los e escrever novamente. As vezes acho que o que eu escrevo parece um quadro pintado por uma senhora ‘desocupada’, mas aí um amigo diz que é bom e que eu devo continuar. Me encho de coragem e vontade e escrevo, sem pretensão, apenas pelo prazer de escrever e sentir que fiz algo. Mas ao ler meus poemas antigos percebo o quanto mudei e o quanto não mudei. Este é um convite. Leiam e comparem. Tirem suas conclusões.

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