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quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Romance de Guel Arraes - Brasil 2008


Acabei de voltar do cinema. Paguei R$ 2,00 para assistir ao filme Romance. Este mês filme nacional (leia-se brasileiro) é quatro real (sic), preço popular. Direção de Guel Arraes. Sinopse: Ana (Letícia Sabatella) e Afonso (Wagner Moura) são dois atores que se apaixonam durante a montagem teatral de Tristão e Isolda. Recriam a história deste casal mítico na vida real, afinal, como diz Afonso no filme “Shakespeare sugou de Tristão e Isolda pra escrever Romeu e Julieta.” Por que Arraes não faria o mesmo? Estão no elenco Andréia Beltrão, José Wilker, Wladimir Brichta e Marco Nanini. Pedro e Ana, ele, diretor de teatro, ela, sua atriz, mulher e musa. Ambos criam um espetáculo baseado em Tristão e Isolda, que estoura. Ana é cooptada pela TV, vira estrela de novela. A relação termina, mas, depois, ela própria toma a iniciativa de usar seu prestígio na TV para chamar Pedro para a direção de um especial, uma adaptação de Tristão e Isolda no Nordeste. Entra em cena Orlando (Brichta) um ator que finge e representa quando não é pra fingir nem representar. Apaixona-se por quem é conveniente, puro jogo de interesses. Representa 24 horas por dia. Se passa por José para conseguir o papel no especial para a TV. Ana se apaixona por José, ou seria por Orlando, ou ainda por Afonso que escreveu as falas de José? Aqui Afonso e Ana não são mais Tristão e Isolda mas sim Cirano de Bergerac e Roxane. Confusão. Ana diz: “não consegui separar as coisas!”
Arraes propõe uma discussão apaixonada sobre o amor. Trata da questão amorosa contemporânea. É possível viver e trabalhar juntos? E quando a mulher faz sucesso e o homem não? Ainda há lugar para ciúmes nas relações? Há frases interessantes no texto: “A paixão dura três anos. Ai começa o amor”. Mais à frente: “Faz 3 anos. A paixão só dura três anos, lembra?” A idéia da possessão: “Minha Ana” “Meu Afonso” “Amor é uma coisa, casamento é outra. As pessoas acabam brigando por causa de uma infiltração na cozinha” Afonso, inseguro: “Sem sofrimento não há romance. ... Eu ficava aqui sozinho. Eu fiquei com ciúmes, fiquei com medo de ouvir você dizer que dava pra ficar com os dois, medo de você não gostar mais de mim, tanto que eu quis deixar de gostar de você.” Ela: “Tive que aprender a gostar de outras pessoas.” Ele: “Senti saudade de ver você dormindo!” “Eu coloquei na boca dele (José) tudo o que eu quero lhe dizer.” Afonso: “Tristão e Isolda não se amam, eles amam o amor e morrem de uma overdose dele.” Confusa ela diz: “Eu não sei se eu quero gostar de uma pessoa pra sempre” Ele: “Sem obstáculo o amor acaba” ela retruca: “Não se deve desistir de procurar uma saída”. Parecem se contradizer, estão confusos, mas as falas, entretanto, são melhores que a história.
Há boas coisas no filme. Cenas cômicas com Brichina e Andréia Beltrão. Wagner Moura tirou sorrisos, Letícia lágrimas. Andréia Beltrão mostra um corpinho invejável. Letícia também e surpreende com sua nudez. Ambas estão maduras e lindas! O som é bom e a música sob direção de Caetano Veloso. Canta uma nova versão de “Nosso Estranho Amor”, linda! Marco Nanini me tirou do sério, literalmente, quando tem um surto por causa de uma roupa de tecido sintético, ri muito. Mas nem tudo são flores. Arraes recebeu críticas que o acusam de fazer um híbrido de cinema e TV, ou de impor ao cinema brasileiro sua estética televisiva. O texto é bom, mas faltou um toque, um não sei o que de cinema. Parece filme feito pra Brasileiro ver, não um público internacional, o que é uma pena. O diretor usa menos cortes e investe mais no plano-seqüência, mas há problemas de corte e edição. No filme, o produtor vivido por José Wilker diz que quer um final brilhante para o especial de TV, porque o público quer um final brilhante. “Não existe final mais óbvio do que a morte. Todos morrem no final.” Arraes consegue um final bom para o seriado de TV mas ficou devendo para o final do filme. Final de Cinderela? Final para público de novela?

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