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quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Nuvem Negra (escrito em 1980)


O que confunde o homem?
A guerra, a discórdia o amor ou a morte?
Se ontem eu amava, hoje eu já não amo
E ontem eu amei mais que os mortos numa guerra.
E se eu concordo com a morte hoje
Ontem eu discordava mais que o amor que sinto hoje.

Hoje, meu ego é mais claro que a neve
Como a água, sem cor
Transparente como o cristal
Sem cheiro como o amor

Gosto do que sou, mas não sou o que eu gosto
Faço o que eu quero, mas não quero o que faço

Minha ventura seria poder pegas as estrelas com as mãos
Sentir minha alma iluminada
Afogar-me nas ondas do mar, e não sentir seu gosto salubre
Sentir a morte arrebatar-me, e mostrar-me o inferno delicioso

Queria sentir o cheiro do sexo, como o perfume da rosa
E molhar minha boca com a saliva da deusa virgem

Não me importaria se o mundo fosse escuro,
E o sol a luz duma vela
Que clareia apenas o que queremos ver.

Queria sentir a força do mar abraçar-me
E nas areias molhadas, derrubar-me
E nessa tristeza que encerra esta vida, afogar-me

Queria que o único som do mundo fosse o murmurar do mar,
Que o vento cessasse, as flores desabrochassem,
O ar acabasse, e a morte plantasse vida.

Queria descobrir as raízes do mal e cortá-las
Que seus frutos caíssem no mar
Que no horizonte, durante o crepúsculo, ao dar a mão ao céu
O mar os entregasse ao sol
Ele os faria pó, pó cósmico
E brilhasse como purpurina,
Ao vê-los os homens diriam:
Hoje o bem virá jantar-nos
Macunaíma

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