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quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Provavel Futuro (1980)



Em 1980, eu com 18 anos de idade, plena ditadura militar (1964-1985), fim da guerra fria ainda longe (1985- 1991), esperava o Armagedom. Nenhuma perspectiva. Pra que planos? Faculdade? Casar, ter filhos? Pra que? O que segue abaixo foi escrito em 1980, da cabeça quase pirando de alguém no fim da adolescência. Escrito do ponto de vista de um sobrevivente:

Provável Futuro (Pseudônimo: Adoidado, 1980)

Quando, no dia, então decisivo, tentou acalmar um turbilhão, não imaginou futuro, salvar minha geração. Pagaram por atos injustos, causados por golpes sujos, por rodeios e impulsos subversivos, indignos, gananciosos. Eles que viviam santos, como pombos, sentindo o pulsar de cada dia, jamais imaginaram um pulsar tão forte, que se fez explosão. Contra uniforme, acabou o sussurrar, a pausa, a vida. Silêncio!!!!!

Nossos corações pulsam agora, como pulsavam os deles naqueles dias. Mas esvariu-se tudo, mais rápido que a luz. As rosas murcharam, as lágrimas secaram, e nem um segundo tiveram para contemplar a morte, digna de ser vista pelos que morrem. A morte não teve tempo para apresentar-se, chegou tardia demais para se mostrar, cedo demais para executar. Daquele solo que, hoje, nada cresce, que hoje triste padece, deixou-nos uma única herança, um mesmo patrimônio, legado em uma força maior, muita potência, pouca tolerância.

Perguntavam então: Como será a explosão que nos expulsará de nosso lar? Este lar, que mais que um simples verde-amarelo, é também azul e branco. E se o acidente for mais esperto, e fazê-lo primeiro? Que força terá o sol, o mar ou o vento nesse dia? Que beleza haverá na rosa, nos campos, nas crianças? Quem nos dará asas para voar, ou voz para cantar? Seremos carvão, negro entrevado, réptil enterrado? Será que a ingenuidade e a sinceridade serão suficientes para ajustar esse mundo de forma correta, sem permitir que as linhas se tornem curvas, interrompendo o andar de pensamentos, planos, decisões....?

Nossos braços estarão cruzados, e inesperadamente serão arrancados. A morte, não a veremos, pois mais rápida e forte que um relâmpago será e não haverá tempo para apresentar-se. Não sobrará uma rosa se quer, rosa azul, vermelha ou amarela. Nenhuma que nos lembre a rosa de Hiroshima.

Um comentário:

Unknown disse...

Como adoro ler e, sem frescura, acho você interessantíssimo, lí todos os seus textos...mas, tenho que dizer que este, em especial, me deixou emocionada...em 1980 eu nem tinha nascido ainda, sou filha de 1981, mas, na minha década, a de 1990, fui que nem você, se me permite...também ficava meio perdida, cansada, atormentada, indignada...não só com os acontecimentos sociais (sempre fui meio raivosa), mas com os meus acontecimentos pessoais...era uma loucura, achei no esporte um refúgio, o seus foram os poemas (quero ler os outros)...também consegui fugir e fazer o que queria (ou quase), mas não me sinto em débito comigo mesma. Que bom que não foi um Chico Buarque, nem um Pessoa, muito menos um Drummond...é ótimo ser assim como és, e, como o próprio Pessoa diz, com pseudônimo de Ricardo Reis, "para ser grande, sê inteiro"...grande beijo, adorei o teor dos posts...a escrita está ótima também, se solte mais, em todos os sentidos, claro...rsrs

beijos,

Daya