Pesquisar este blog

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Tortillas, Jalapeño e o rolo do Jesse




Hoje a tarde, baixou um espírito em mim. Era o da Cida. Um nome imaginário de uma faxineira. Comecei uma limpeza nos armários da cozinha. Foi então que encontrei o rolo do Jesse. Incrível, mas viajei no tempo. Primeiro deixe explicar o que é o rolo do Jesse. Trata-se de um rolo feito de madeira, de uns 15 cm de comprimento e 4 cm de diâmetro, tipo pau de macarrão, mas foi feito para abrir tortillas mexicanas. Agora, por trás do rolo, há uma história, ou um rolo. Jesse (leia-se Jéssi, como na musica da Carly Simon), é americano, 1,90 de altura, branquíssimo, e não fala português. Conheci ele em Tatuí, no início de 1993. Ele veio de Brooklyin, NY, instalar um equipamento telefônico no local onde eu trabalhava. Fiz amizade, e nos três meses em que ele ficou aqui no Brasil, a amizade cresceu. Meu inglês melhorava a cada dia. Levei ele pra conhecer o Rio de Janeiro, minha família, comer pastel na feira, fomos no topo do edifício Itália. Um dia, convidei alguns amigos para um jantar mexicano em meu apê, Jesse seria o cozinheiro. Antes ele havia perguntado se eu tinha um rolo para abrir a massa de tortillas, resposta negativa, ele foi até a marcenaria da fábrica e pediu que fizessem um. Ele trouxe o rolo, fizemos tortillas, guacamole, nachos, ele conseguiu uns jalapeños, não sei onde, e passamos uma noitinha muito agradável com nossos amigos. Nas muitas conversas que tivemos, eu falei pra ele sobre uma garota argentina lindíssima que eu conhecia. Tinha conhecido ela aqui no Brasil, e fiquei deslumbrado no primeiro dia em que a vi. Seu nome era Marcela. Pedi para um colega de trabalho, amigo dela, me apresentar. Passamos a nos corresponder. Entre 1990 e 1993 os irmanos argentinos vinham muito para o Brasil, principalmente para o sul passar férias, eles estavam numa boa e nossa economia una mierda. Ela voltou várias vezes e nos vimos sempre. Eu era apaixonado, não sei se por ela, ou pela beleza dela. Um dia uma amiga dela me disse que ela gostava de mim. Achei impossível, mas me animei e fui para a Argentina visitá-la. Lá fiquei sabendo que ela tinha um novio. Banho de água fria. Também, que ela era muito apegada a mãe e quem pedisse a mão, levava a mãe. Conheci o tal novio. Cara foi super legal. Me cumprimentou com um beijo. Estranhei, mas descobri que é comum por lá. Depois a mãe dela me disse que ela queria terminar com ele, mas estava esperando o momento certo. Enfim, achei o cara muito amigo e seria sacanagem dizer pra ela porque eu tinha ido até lá. Voltei pro Brasil sem dizer nada. Pouco depois que falei dela pro Jesse ele foi para a Argentina instalar um equipamento telefônico na nossa filial de lá. Coincidência ou não, ele conheceu o novio da Marcela que a apresentou a ele. Depois que o Jesse voltou para os EUA, me mandou um CD do Duran Duran de presente. O tempo passou, e meu contato com o Jesse foi ficando cada vez menor. Cinco anos depois, em dezembro de 1998, passei por Nova York e resolvi visitá-lo. Ele foi maravilhoso comigo. Me levou em um pub irlandês no Brooklyn, jantamos em Manhatan, bebemos no Garage Jazz Bar, reviramos a cidade no pouco tempo que ele teve pra ficar comigo. No final da visita ele disse que tinha algo para me dizer. Vou me casar. Que bom! Parabéns! Ai eu olhei pra ele, ele olhou pra mim e não precisava dizer mais nada. Eu já sabia. É com a Marcela não é? Ele confirmou. Em 98 com o Real forte o Brasil estava bem, a Argentina una mierda, Marcela mudou-se para Nova York com a mãe, se reencontraram e começaram a namorar. Me senti um pouco traído, senti um pouco de ciúmes mas logo passou. Não tinha feito muito esforço por ela. Eu estava à caminho de Londres onde iria estudar por um ano e minha cabeça estava em outro lugar. Bem, desejei felicidades, segui meu caminho e nunca mais ouvi falar, nem do Jesse, nem da Marcela. Depois daquele jantar preparado por ele, ele me deu o rolo de presente. Passei a apreciar comida mexicana. Adoro jalapeño. Nunca mais fiz tortilla, muito trabalhoso, mas ainda tenho o rolo do Jesse. Nove anos depois eu me deparo com o rolo que ele deixou comigo, na minha cozinha. Fico imaginando o que aconteceu depois. Será que se casaram mesmo? Será que ela continua deslumbrante? Em que rolo ele deve ter se metido casando com a Marcela e levando a mãe dela a tiracolo! Eu ainda tenho o rolo dele aqui, mas ele deve estar num rolo bem maior por lá.

Um comentário:

Caco disse...

Adorei a história!