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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Vicky Cristina Barcelona, Woody Alen, Almodovar e eu

(foto: http://vivirlatino.com/2008/04/23/penelope-bardem-and-woody-off-to-cannes.php)
Por acaso passei em frente ao cinema, domingo, 21h30 e soube que ia passar o novo filme do Woody Allen. Que boa maneira de terminar um dos melhores domingos que tivera este ano. Bem acompanhado, entrei no cinema. O filme começou com a voz de um narrador (Christopher Evan Welch) apresentando as protagonistas Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Scarlet Johansson) e o motivo da visita delas a Barcelona. Vicky, noiva de Doug (Chris Messina) é prática e tradicional, Cristina, emocional, espontânea, não sabe o que quer da vida. Logo ambas conhecem um artista plástico (Javier Bardem) que havia tido um relacionamento tempestuoso com Maria Elena (Penélope Cruz). Personagens passam por momentos únicos, experiências antes nunca vividas. Florescem sentimentos de culpa, dúvidas, medo e ciúmes. A estória se desenrola e de repente pensei estar assistindo a um filme do Almodóvar. Woody Allen mudou, mas continua ótimo, talvez melhor. Como Picasso, que teve suas fases, Woody Alen esta numa nova fase. Scarlet Johansson enche a tela com sua beleza e lábios carnudos. Ela nem precisaria saber atuar, mas sabe. Quando Penélope Cruz aparece no filme, como Maria Helena, louca varrida, ótima, deliciosa em todos os sentidos, o filme fica ainda mais Almodóvariano. Que seres humanos, anglo-saxônicos ou não, resistem ao charme latino, ao clima e vibração de uma cidade “caliente” com pessoas “calientes”, vinho, cheiros e sabores diferentes. Ninguém fica imune a tudo que apela aos sentidos, nem as personagens, nem nós, audiência no cinema. Surpreendi-me, tiradas que vinham, como tiros, de todos os lados, e há tiros no filme (não é um spoiler), também me assustei e reagi de várias maneiras, a maior parte do tempo rindo. Senti certa crítica do diretor ao povo americano, tão sério, tão prático, tão puritano e uma exaltação à maneira solta, leve, inconseqüente e emotiva dos euro-latinos. Woody Allen, que agora tem apenas filmado na Europa, me fez lembrar da geração perdida, autores americanos que após a Primeira Guerra, nos felizes anos vinte, representou uma rebelião ante-puritanista, entre eles Sherwood Anderson, F. Scott Fitzgerald, Sinclair Lewis e Hemingway. No filme, as personagens são artistas, vivem e fazem loucuras mas são perdoados. Afinal é o que se espera dos verdadeiros artistas. O filme terminou e eu fiquei com uma sensação de que deveria ter continuado um pouco mais. Mas, de repente, se tivesse um minuto ou dois a mais, eu nem estaria escrevendo sobre este filme agora. No final o narrador diz que Cristina ainda não sabia o que queria, mas sabia o que ela não queria. O filme termina onde começou. Mas eu não. Me vi um pouco na Cristina, um pouco na Vicky. Experimento sentimentos parecidos. Sou um pouco a Vicky, sou prático, planejo tudo o que quero e até consigo realizar meus sonhos. Mas também, sinto um prazer enorme de viver o inesperado, de abrir os poros e os sentidos, de estar ao lado de pessoas que tem a habilidade de viver a vida bem vivida, com inteligência e alegria, boas maneiras e elegância (savoir-vivre). Adorei sentir a mão que me tocou durante todo o filme, de ouvir a música do filme dizendo "Barcelona" com aquele esse dito com a língua presa, de ser transportado para Barcelona, mesmo sem ainda ter estado lá. Como Cristina, eu, ás vezes não sei o que quero, mas sei o que eu não quero: uma vida banal, parada no tempo e no espaço, sozinho, sem amor e amigos. Já tenho quase tudo o que eu quero, agora só falta viajar para a Espanha.

Um comentário:

Silvia disse...

Adorei teu blog, Luiz!! Parabéns! Quero muito ver este filme...
beijos